quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Birdboy (2011)

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Birdboy de Pedro Rivero e Alberto Vázquez é uma curta-metragem espanhola de animação vencedora do Goya da Academia Espanhola de Cinema na respectiva categoria que conta a história de Dinky cuja vida é drasticamente alterada depois de um acidente industrial que altera toda a existência da sua ilha tal como a conhecera até então. Num momento em que não sabe a quem recorrer, Dinky poderá encontrar salvação junto de Birdboy, um jovem marginal que se esconde na densa floresta que, tal como ele, resiste a todas as alterações circundantes.
O argumento de Birdboy também da autoria da dupla de realizadores, prende-se directamente com uma premissa não tão simples como pode inicialmente aparentar ser. Inicialmente presenciamos a vida tal como ela é... as responsabilidades dos adultos em trabalharem e poderem sustentar os seus hábitos enquanto os mais novos se preocupam em ir para uma sala de aula na esperança de, um dia, poderem também eles sustentar o seu próprio percurso. Mas, o que acontece quando este ciclo aparentemente normalizado e aceite é colocado em causa e radicalmente alterado por acontecimentos que ninguém controla?
Para responder a esta questão, Birdboy retira estas personagens aparentemente banais e coloca-as num cenário extremo onde a sobrevivência passa a ser a dinâmica principal de todos e, para a manutenção da mesma, tudo aquilo que em tempos se deu como algo adquirido é agora um luxo ao qual não se podem dar. No fundo, Birdboy teoriza inicialmente sobre "aquele" evento que radicalizou a vida de um ser numa época transformadora como o é, por exemplo, uma adolescência que tudo susceptibiliza e ao qual confere uma perspectiva dramatizadora exponenciando a maioria dos referidos eventos a uma escala sentida mais de perto e influenciadora.
Mas, ao mesmo tempo, Birdboy não se prende exclusivamente com essa referida transformação pessoal mas também com um olhar mais ou menos perturbador sobre os pequenos grandes elementos internos - da sociedade e da comunidade como um todo - que afectam os comportamentos e os estilos de vida daqueles que a compõem. Do desemprego - de certa forma não esquecer que esta curta-metragem foi elaborada durante o período de crise económica que afectou de forma drástica os países do sul da Europa tendo, no entanto, sido a obra no qual se baseou escrita no período do final da década de 80 e início da de 90 - que é aqui simbolizado com uma fábrica que explode como símbolo de um trabalho que desaparece, passando pela desertificação do espaço que ora deixa de ser cuidado ora não existe ninguém para dele tratar, sem esquecer os problemas sociais daí inerentes como o são a desflorestação, o abandono das infraestruturas, a marginalidade e criminalidade sem esquecer o próprio consumo de substâncias ilícitas, todos eles passam mais ou menos subtilmente por esta curta-metragem que não se priva de uma mordaz crítica social onde aqueles que sobrevivem se transformam ao ponto de repudiarem aqueles com quem anteriormente privavam ou, ainda pior, verem nos seus actos e na sua presença um inimigo da sua sobrevivência.
De um espaço idílico a um pântano social e ambiental onde tudo morre dos peixes às aves sem esquecer as plantas e as flores, a outrora paradisíaca ilha é agora um lugar lúgubre onde apenas parece resistir uma eventual morte do mesmo.
Mas nem tudo é aquilo que aparenta, e o homónimo "Birdboy" poderá ser um inesperado e improvável herói que encontra a última mas surpreendente solução para os males de uma ilha que insistem em morrer lentamente aos olhares dos seus já pouco habitantes.
Com uma mensagem social e política relativamente presente e sem dúvida interessante, Birdboy é um francamente importante filme curto que, longe de agradar a crianças para as quais não está necessariamente dirigida, consegue transformar o seu género no veículo de navegação de uma história que não só é actual e necessária como sobretudo se afirma por, através de uma animação mais ou menos inocente, abordar toda uma temática social que não fará o seu espectador rir mas sim reflectir sobre uma existência normalmente condenada.
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8 / 10
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