quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Admirador Secreto (2015)

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Admirador Secreto de Roberto Pérez Toledo é uma curta-metragem espanhola de ficção que une duas formas de comunicação muito particulares, ou seja, se por um lado falamos de uma obra cinematográfica, por outro temos uma em que a comunicação postal escrita está em evidência através de Carla (Sandra Martín), a única mulher de um grupo de quatro amigos que partilham um apartamento.
Quando Carla recebe misteriosas cartas de um admirador secreto que deixam os três moradores masculinos (Miguel Ángel Bellido, Yerai León e Ventura Rodríguez) com as mais variadas e distintas reacções, será importante saber quem as enviou ou perceber para quem são realmente dirigidas?
Presente no argumento desta que é a sua mais recente curta-metragem como que de uma assinatura pessoal enquanto director e criador de histórias, as relações humanas ganham uma vez mais uma dimensão pouco simplista na vontade de relatar como elas se podem processar. Roberto Pérez Toledo tem uma extensa carreira enquanto realizador e argumentista, e em todos os seus trabalhos que por aqui já tive o prazer de comentar denota-se uma acentuada preocupação em contar como as relações humanas se desenrolam pelo prazer de contar uma história que faça não só pensar como também sentir todos os pequenos grandes entraves que se podem esconder por detrás de olhares mais ou menos reveladores. No fundo, as suas personagens transmitem aquilo que pelo qual todos nós (des)esperamos... ser amados incondicionalmente por "aquela" pessoa que está invariavelmente ao nosso lado e à qual - secretamente - dedicamos toda a nossa existência e razão de viver.
Com um igualmente apurado sentido de ironia e comédia, as suas histórias são contadas não pelo dramatismo da mesma mas sim com um humor quase cândido que suaviza a tal "dor" do amor não correspondido ou não conhecido aqui registado pelas três desconcertadas e mordazes interpretações de Bellido, León e Rodríguez que funcionam como os velhos do Restelo capazes de, com algum desdém, alertar para situações que, bem analisadas, poderiam constituir alguma preocupação.
Numa altura em que a comunicação chega à distância de um click, livre - pensamos nós - de qualquer confusão ou extravio, o espectador pergunta-se, no entanto, onde está a magia de receber uma carta, escrita à mão e onde muito também pela letra se conseguem perceber motivações, sentimentos e estados de espírito daqueles que nos escrevem e encaram aquele momento como algo pessoal e directamente relacionado com a pessoa a quem a escrevem.
Inteligente não só pela forma como expõe as dinâmicas de uma potencial relação - nunca sabemos se se concretiza - como também pelo humor e dramatismo que incute às suas personagens, transformando os espaços em vazios que não interferem com a dinâmica da história mas que os influenciam pela forma como tudo, em pequenos instantes, se transforma e revela num mesmo local. Já o disse aqui e reafirmo... Roberto Pérez Toledo é um mestre a contar histórias e um do qual seguramente continuaremos a ouvir falar muito pelo futuro.
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8 / 10
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