sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Trois (2015)

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Trois de Roberto Pérez Toledo é uma curta-metragem de ficção espanhola e que dá continuidade à premissa que rege a curta-metragem Fugaces que hoje mais cedo aqui comentei.
Ele (Álex García) e Ele (Adrián Expósito) conhecem Ela (Marine Discazeaux). Eles espanhóis, Ela francesa. Não falam a mesma língua e passaram a noite juntos na praia. Para um deles foi o primeiro ménage à trois. Falam... mas não se entendem.
O ménage à trois inventaram-no os franceses mas... onde fica o amor?
Pérez Toledo volta uma vez mais e de forma astuta à temática das relações humanas. Em que lugar ficou o amor num ménage à trois? Será este a única forma de duas pessoas, cuja atracção é mútua e evidente, conseguem encontrar para se amarem? A falta de comunicação aqui levada à letra através da representação em duas línguas distintas - francês e espanhol - é, no entanto, uma forma inteligente e figurativa da falta de capacidade das pessoas comunicarem realmente entre si e transmitirem as suas preocupações, desejos e sentimentos. Se aquela noite é para "Ela" francesa e a tentar recuperar de um passado complicado - que não é nunca facultado ao espectador - para "Eles" foi a transformação em algo real de um sentimento maior até então impossível de expressar. Aquela noite, e principalmente aquele ménage à trois, foi a confirmação de um amor não declarado - apenas o é com um muito francês mas também muito universal je t'aime - revelado entre os dois amigos espanhóis com aquele que é possivelmente o único afecto/sentimento expressivo do tal amor que esta curta-metragem vê cumprir.
No entanto, existe mais para lá da confirmação deste sentimento. Existe ainda uma alma estrangeira e que não consegue - nem tenta - revelar o quão de positivo foi aquela noite para ela... como de certa forma a salvou de um passado de infelicidade não sabendo ela que, também para eles, esta noite também os salvou de um segredo vivido, sentido e até então nunca confessado... o amor.
Sempre presente nos brilhantes argumentos de Pérez Toledo está não só a dinâmica das relações humanas como principalmente esta (in)comunicabilidade que nos (des)governa diariamente... Porque razão teremos tanto medo de confessar os nossos sentimentos e aquilo que somos àqueles que (n)os motivam e impelem a senti-los?! Porque razão acaba por ser sempre o silêncio o melhor amigo das almas apaixonadas que se perdem pela inexpressividade do sentimento? Porque será a culpa o estado associado do amor? E finalmente, porque motivo utilizaremos inuendos e o acaso como o mote perfeito para expressar algo que nos vai na alma? Se não o medo da rejeição que se esquece quando finalmente se cumpre o sentimento, o que leva cada um de nós a optar por um sofrimento sentido nesse mesmo silêncio que nos impossibilita de sentir e de viver?
Com uma interessante música original de Alejandro Ventura e três inspiradas interpretações que conseguem comunicar para lá das barreiras linguísticas, Trois é mais um filme curto que confirma todo o potencial de um dos mais prolíferos e entusiastas realizadores espanhóis e da condição humana enquanto ser incapaz de expressar todos os seus sentimentos e afectos.
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8 / 10
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