quinta-feira, 9 de julho de 2015

Margem (2014)

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Margem de Miguel Pereira é uma curta-metragem portuguesa de ficção que esteve presente na secção competitiva da sessão #55 do Shortcutz Viseu e cujo argumento - também da autoria do realizador - nos conta a história de Jorge (João Queirós), um homem de meia idade que passa os últimos instantes das suas férias em família e que ao vislumbrar Andreia (Mariana Gomes), sente uma inesperada e proibida atracção.
A curta-metragem de Miguel Pereira é um silencioso ensaio sobre a rotina, a atracção e o desejo que se interligam num perigoso jogo de sedução que testa o fruto proibido. Em breves minutos conhecemos e acompanhamos este homem - interpretado por João Queirós - que surge apagado no seio de um família onde ele aparenta ser o elo mais fraco. "Jorge" é alguém que a vida levou sem que ele desse conta e agora mais não é do que um fantasma que está fisicamente junto da sua família mas psicologicamente distante... talvez nem sequer a pensar em nada mais simplesmente desligado do que o rodeia. "Jorge" já não vive ou sente e os afectos com a sua mulher apresentam-se como inexistentes.
Quando "Andreia" aparece na vida de "Jorge" este parece ganhar toda uma segunda juventude que irradia pelo prazer de testar algo não aprovado - e daí fazê-lo em silêncio - ao seduzir e ser seduzido por uma jovem adolescente que, também ela, procura o seu momento de prazer ocasional sem responsabilidades ou aprovado pelos demais... O que é proibido...
Sendo ou não a sua "mulher" ideal, "Andreia" representa todos aqueles momentos de prazer e excitação que "Jorge" já não sentia... um amor impossível que a sua mulher já não sente - o espectador nunca a vê directamente - e até mesmo o cuidado que tem para com um filho que não nutre pelo seu sendo sucessivamente desautorizado por uma mulher possessiva e que nele mais não vê do que um estorvo.
Miguel Pereira cria assim um proto-hino à solidão de uma vida apagada que para lá de um prazer furtuito se esconde na insignificância a que foi reduzido o seu ser mas, ao mesmo tempo, ainda que no final nada aconteça à personagem principal, o espectador fica com aquela sensação dúbia de que tranquilamente volta à sua vida normal mas... por um caminho diferente. Talvez se afirme, talvez passe a ter uma voz... talvez...
Interessante pela sua direcção de fotografia que esconde a luz dos últimos dias de um Verão ameno, Margem leva o espectador a uma reflexão sobre aquele exacto momento em que pelo caminho, se esqueceu de si.
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6 / 10
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