quarta-feira, 10 de julho de 2013

The Naked Leading the Blind (2012)

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The Naked Leading the Blind de Wim Vanacker é uma curta-metragem franco-belga contada por Bob (Brice Beaugier) que nos revela que Martha (Mika Ela Fisher), a sua mulher, mantém um relação de correspondência com o seu anterior patrão Robert (Mehdi Rebiai) nos últimos dez anos através de gravações que trocam e nas quais relatam toda a sua vida ao mais íntimo detalhe.
É esta relação de proximidade que faz Bob sentir-se incomodado e que estabelece uma íntima dependência entre a sua mulher e o seu antigo patrão que ele não consegue explicar. É então que os três se reúnem num dia para um jantar onde os dois homens se conhecem, e onde Bob fica a perceber a dimensão da relação entre a sua mulher e Robert, e perceber qual a verdadeira dimensão do seu próprio amor para com ela.
Vanacker em colaboração com Martin Copeland escrevem este fantástico argumento que vai para além de uma simples história onde se equacionam as relações sentimentais e afectivas que (des)unem um casal ou potenciais elementos externos que os coloquem à prova. Aqui, aquilo que nos é transmitido por "Bob" e "Martha" é que existem sim elementos que colocam o casal em questão à prova, não pelo facto de existirem mas sim pela vontade expressa em que todos estivessem sempre conscientes da sua existência sem que, no entanto, fosse explica o porquê da mesma. Isto é, existindo uma cumplicidade entre "Martha" e "Robert", porque não tornar clara a sua origem, os seus porquês e qual a necessidade de manter este relato quase diário das suas actividades? Independentemente de existirem como um facto consumado, na prática o que é certo é que nunca fora explicado porque motivo o faziam optando simplesmente pela incomunicabilidade do sim... "Faço porque tenho reciprocidade".
No entanto, não esquecer também que é essa mesma incomunicabilidade presente na relação entre o casal que se prende a verdadeira raíz desta atenção dada por "Martha" ao seu antigo patrão, ou seja, se por um lado este casal pretende manter uma relação estável e próxima, não é menos verdade que se sente incapaz de reflectir sobre essa mesma proximidade e sobre o amor que ainda sentem um pelo outro. "Robert" encontra-se então presente quando a mulher vê nele alguém que com ela comunica e com quem se exprime mesmo que, de uma ou outra forma ele não a vejo... é cego. Mas esta cegueira é apenas física e não espiritual. Ele vê-a de formas que o marido nunca a conseguiu ver e encontra a beleza na mulher que mais ninguém se interessa em ver, fugindo assim à rotina que os dias lhe impõem tendo dessa forma sempre algo novo e diferente por descobrir; o passar dos anos, um pensamento ou uma cicatriz que aos olhos dos outros passa indiferente estão, aos "olhos" da alma deste homem bem visíveis e presentes. Assim, para além de uma qualquer traição que não está subentendida, este argumento leva-nos a reflectir sobre quão realmente se conhecem duas pessoas que podem viver diariamente juntas mas que com o passar do tempo podem não ser mais do que duas pessoas que estão permanentemente lado a lado sem na prática realmente se verem, questionando assim com o tempo o quão realmente se amam, que cumplicidade têm na realidade ou até mesmo se a sua relação continua a fazer o mesmo sentido que fazia anos antes quando se conheceram.
Fé... é este o sentimento que se espera. Fé no "outro" e no que ele sente. Fé naquilo que o próprio sente. Fé no amor, na confiança, na relação e na entrega. Fé que, ao mesmo tempo, nos encaminha para todo um conjunto de possibilidades que nos permitem encontrar uma série de rumos por onde poder seguir. Esta será assim uma sentida reflexão sobre o amor através dos olhos de um homem... que não vê.
De destacar a direcção de fotografia de Daniel Kocsis que nos coloca num espaço que apesar de inicialmente tenso consegue com a sua escassa luz e cores carregadas ser estranhamente apelativo e convidativo.
E finalmente é ainda de referir que ao som de uma narração contínua, somos apresentados a todas estas personagens que comunicam também elas com os seus sentidos. Com os olhos, com o tacto e com todas as formas de comunicação pouco verbal que aos poucos os caracteriza e nos permitem conhecê-los e que são magnificamente interpretados por este conjunto de actores entre os quais sou levado a destacar um inicialmente renitente Brice Beaugier, mas que é aquele que tem a maior revelação e crescendo da sua personagem e como tal aquele que domina esta curta-metragem desde o início numa ferozmente contida emotividade que nos convence da sua (in)credulidade dos comportamentos alheios, mas que aos poucos nos desarma com a sua aceitação e fé nos sentimentos humanos.
Assim, muito ao estilo de The Tree of Life ou To the Wonder de Terrence Mallick, este The Naked Leading the Blind de Wim Vanacker é um sentido relato sobre aquilo que nos move no amor e nas relações humanas sem que o vejamos mas que se manifesta de uma forma assumidamente desarmante... a fé que, tal como em todos os grandes movimentos ou descobertas, sempre liderou e guiou os Homens.
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9 / 10
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