quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Io e Te (2012)

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Eu e Tu de Bernardo Bertolucci fez parte da Selecção Oficial - Fora de Competição do Lisbon & Estoril Film Festival, naquela que é a adaptação do romance de Niccolò Ammaniti que também colabora no argumento em parceria com o próprio Bertolucci, Umberto Contarello e Francesca Marciano.
Lorenzo (Jacopo Olmo Antinori) é um jovem solitário e inadaptado de quatorze anos que além de viver no seu próprio mundo e com ideias mais particulares que resolve enganar os seus pais que pensam que ele parte numa viagem de férias organizada pela escola, e refugia-se antes na cave do seu prédio evitando desta forma todo o contacto que tem com outras pessoas e viver uns dias tranquilos a fazer o que bem lhe apetece.
No entanto algo com que Lorenzo não contava era com a presença naquela cave da sua igualmente inadaptada irmã Olivia (Tea Falco) que tenta agora desintoxicar-se do alcoól e droga que consome compulsivamente.
A relação quase inexistente que estes dois irmãos têm não só é colocada à prova durante esta semana como também nasce e fortalece os laços que ambos têm através da descoberta do passado intencionalmente ignorado dos seus pais.
Esta relação fraterna, na qual se baseia essencialmente todo o filme, estabelece de certa forma uma comparação com a própria vida. Se inicialmente se desconhece aos poucos e com curiosidade se tenta saber um pouco mais sobre aquilo, ou aqueles, que os rodeiam. Ali, numa cave húmida, cinzenta e com as velhas memórias de um passado que lhes é desconhecido, tanto "Lorenzo" como "Olivia" que são inicialmente indiferentes e até demarcam uma certa hostilidade um pelo outro, aprendem a conviver e desperta em cada um deles a vontade de se conhecerem. Acima da relação fraterna que os une, surge algo que nenhum deles esperava poder encontrar em alguém... uma amizade.
Isolados do mundo não só por se encontrarem naquela cave, tanto Lorenzo como Olivia são dois inadaptados. Ela por ter sentido muito jovem, aquando do segundo casamento do seu pai, que ela passaria agora a ser apenas "mais uma" pessoa na sua vida. Alguém a quem ele deixaria de dar atenção e afecto, facto que a levaria a procurá-los noutros locais... sempre os mais errados e a um refúgio no mundo do alcoól e da droga dos quais dificilmente se conseguiria livrar. Já Lorenzo, que havia recentemente iniciado o seu período de adolescente e para o qual todo o mundo está virado do avesso, sente a indiferença dos mais velhos e a falta de qualquer tipo de ligação com as outras pessoas da sua idade com quem não compartilha interesses nem hábitos. Aquela estranha cave repleta de momentos passados parece-lhe ser o único local onde poderá "encontrar-se" e comportar-se tal e qual a idade que tem.
As inadaptações que ambos enfrentam acabam por se tornar exactamente nos aspectos que os vão unir. O conhecimento que Olivia pode transmitir a Lorenzo, e a ajuda que este pode dar à sua irmã e assim ajudá-la a recomeçar a vida que ela pensava ter perdido e sentir-se novamente especial face aos olhos de alguém.
Jacopo Olmo Antinori e Tea Falco conseguem desenvolver uma franca e genuína cumplicidade que levam do início ao final tornando esta história "a dois" num verdadeiro exercício de opostos: a vida e a morte, as relações e as separações, a amizade e a raiva que são, no fundo, aquilo que a todos nos faz seguir rumo.
Ainda com uma magnífica banda-sonora pelas mãos de Franco Piersanti e onde se destacam vários temas músicas sendo o principal e que dá de certa forma alma ao filme Ragazzo Solo Ragazza Sola de David Bowie, e também uma fotografia do já premiado com um David, prémio da Academia Italiana de Cinema, Fabio Cianchetti, que dá tanta luz ao filme quanto aquela que as "almas" das suas personagens irradiam, factores técnicos que enriquecem e tornam este filme num daqueles que não devemos perder.
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8 / 10
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