sábado, 15 de setembro de 2012

Excision (2012)

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Excision de Richard Bates Jr. (que também assina o argumento) é, ainda antes do final desta edição do MOTELx e com alguns filmes por ver, do melhor que este festival vai apresentar este ano.
Pauline (AnnaLynne McCord) é uma adolescente inadaptada quer socialmente, academicamente e até mesmo junto da sua família que está habituada aos caprichos da jovem. O maior e mais vincado é o seu desejo em ser uma grande cirurgiã, profissão para a qual pratica em cadáveres de animais que encontra pelo caminho, e nos inúmeros livros de medicina que lê.
No seio de um lar também ele algo disfuncional a mãe (Traci Lords) e o pai (Roger Bart) vivem também eles já muito desligados dos bizarros comportamentos de Pauline e dedicam toda a sua atenção a Grace (Ariel Winter), a sua filha mais nova que sofre de uma grave doença, ignorando não só grande parte do que Pauline faz mas principalmente os seus perturbadores sonhos de sangue e cirurgias que para ela não só são um desejo como também lhe provocam o estímulo sexual típico da sua jovem idade.
São estes mesmos sonhos e devaneios que além da a tornarem numa inadaptada aos olhos do mundo que a rodeia, que a irão levar a um trágico e doloroso final que irá pôr várias vidas em risco.
Para um género como é o terror e o fantástico que normalmente não possui como ponto forte as suas interpretações, este Excision por sua vez não só tem uma como duas. Não só AnnaLynne McCord se mostra um ponto bem forte com a sua sólida e bizarra interpretação como ainda é secundada por outra grande interpretação a cargo de uma inesperada Traci Lords.
Enquanto McCord é o centro de todo o filme e nos faz delirar não só com a sua postura, comportamento e monólogos filosóficos como todo o acompanhamento artístico e exuberante dos seus estimulantes sonhos conseguem transformar a sua já forte interpretação em algo que quase transcende o próprio filme. Se "conscientemente" o seu comportamento é mordaz, sarcástico e repleto de uma vivacidade mórbida que afastaria o comum dos mortais, não é menos verdade que se qualquer um deles pudesse imaginar metade do que lhe passa na sua mente então aí fugiria sem deixar qualquer rasto. As vívidas imagens que são transportadas pelo seu subconsciente são não só delirantes como assustadoras e em todos os momentos alguns dos pontos mais fortes do filme e da sua "Pauline". McCord dá um toque especial em todos os seus segmentos e facilmente agarra o filme do início até ao final.
A secundá-la firmemente está uma brilhante, e inesperada, interpretação de Traci Lords. Se é um facto que esta actriz nunca se destacou em nenhuma das inúmeras interpretações "ultra"-secundárias em que participa, é igualmente justo e correcto dizer que aqui não só dá nas vistas como supera qualquer expectativa que poderíamos ter por muito alta que fosse. Lords fez-me em todos os momentos recordar uma Piper Laurie no filme Carrie e a sua possessiva e tempestuosa relação com uma diferente Sissy Spacek. Se excluirmos a parte religiosa do fanatismo existente em Carrie, Lords é aqui a tentativa de mostrar ao mundo quão normal é a sua família, sabendo ela perfeitamente que de normal nada têm. A sua calma aparente só constrasta com a igualmente forte decadência no seio das quatro paredes da sua casa. Tempestiva, conflituosa sem qualquer tipo de paciência, acabamos por pensar se ela ficou assim devido ao excêntrico comportamento de Pauline ou se de facto é esta que se comporta como tal devido ao ambiente possessivo e controlador de que foi alvo toda a sua vida.
McCord e Lords são sem dúvida a grande surpresa desta filme pela positiva e em todas as frentes. As duas complementam-se, e a grandeza das suas interpretações não está isenta desta mesma co-existência.
Se este filme consegue ser forte no que diz respeito às suas interpretações, não é menos verdade que visualmente é delicioso, fruto dos brilhantes momentos entre o "real" e o "imaginado" que se interligam ao longo de todo o filme e e que funcionam não só como o seu despertar para uma vida dita "adulta" como principalmente são o seu despertar sexual, pois todos estes momentos assim o mostram. E não só falando no conteúdo mas também na forma como, por exemplo, na brilhante e excêntrica fotografia da autoria de Itay Gross, que tanto abre como fecha a luz que incide tanto sobre os actores como os espaços e o tempo, numa clara referência ao lado da aparência da normalidade (luz) e por outro lado ao mostrar aquilo que estas personagens realmente são (ausência de luz), como será impossível não referir a brilhante caracterização feita principalmente em McCord que transforma literalmente a actriz numa adolescente não direi diferente mas sim bem "alternativa" ao ponto de parecer doente e cadavérica sem na realidade o ser.
E claro, finalmente há que referir os "sonhos" de Pauline, aquilo que a faz vibrar e sentir viva... o seu desejo por sangue e sobre como este a excita ao ponto de apenas e só se imaginar feliz quando envolta nele. Estes momentos, breves na sua maioria, são do mais excêntrico e bizarro que há muito não via num filme. Desde sumptuosos cenários e vestuário à mais sórdida mutilação corporal... temos de tudo. Mas sempre executado com precisão, tal como uma boa cirurgiã deve fazer, e assim se tornarem nos momentos não só visualmente mais ricos como também em alguns dos mais incomodativos de serem vistos mas dos quais não conseguimos desviar o olhar.
Como curiosidade, e que servem de certa forma como chamariz para o filme (se bem que todos eles bem colocados nas suas respectivas interpretações), há ainda que destacar as participações especiais de actores como Malcolm McDowell, Marlee Matlin e Ray Wise... no seu melhor e devidamente bizarros para não ficarem "fora" do ambiente pretendido.
Estranho, diferente, volto a dizer bizarro e muito intenso... este deveria ser o filme de encerramento do festival MOTELx deste ano. A sua grandeza assim o fazia merecer.
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9 / 10
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