quinta-feira, 19 de julho de 2012

Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul Injustiçado (1995)

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Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul Injustiçado de Teresa Olga foi o mais revolucionário documentário sobre a vida do Cônsul de Bordéus que ao passar mais de trinta mil vistos naquela cidade francesa salvou dos campos de extermínio e da morte milhares de cidadãos.
Digo revolucionário porque até à data a sua obra era pouco conhecida fora da própria área e, mesmo esta, pretendia esquecer tão nobre atitude por pertencerem ao meio muitos nomes que fizeram parte do corpo diplomático de "outros tempos". Acrescento ainda que foi quase um acto de ousadia a realização deste documentário. Aristides de Sousa Mendes obteve um estatuto quase intocável com a divulgação do seu nome. Por um lado algo que havia estado tantos e tantos anos escondido estava agora ao alcance do conhecimento de todos. Quem quis e viu tinha agora a certeza que não havia sido só Oskar Schindler a salvar milhares das garras do extermínio nazi e que, curiosamente, um desses salvadores falava português... a sua língua.
Através de imagens da época e de uma extensa mas muito bem elaborada pesquisa documental e histórica, este documentário escrito pela então jornalista da RTP, Diana Andringa, obteve quase um estatuto de culto entre o género, quer pela sua excelência quer pela já referida curiosidade que despertou em muitos portugueses. Eu fui um deles.
A diplomacia, especialmente a diplomacia de valores que anos mais tarde seria referência na academia, que centrava a sua atenção sobre aqueles que desafiam a autoridade e os seus superiores, pondo em evidência (e em clara importância) os valores da dignidade, da vida humana e sobretudo dos Direitos Humanos, obtiveram uma importância tal que vários foram os nomes que seriam falados nos anos seguintes, graças à "agora" conhecida brava acção de Sousa Mendes.
O documentário preza ainda pela coerência e destacada investigação histórica que abriu portas a novos trabalhos sobre tão esquecidos arquivos e documentação, revelando a extrema importância que é em salvaguardar tão rico património que este Homem deixou de legado para as gerações futuras mas que, pelas circunstâncias do regime que perdurou em Portugal, se mantiveram esquecidos durante anos e anos. Preza também pelo destaque dado à Casa do Passal, residência do diplomata, e que se encontrou (e se calhar ainda encontra) durante anos na mais perfeita degragação e esquecimento, como se esta representasse o apagar da sua memória em vez de se trabalhar para a sua elevação a um Museu pela sua obra.
Este é, sem qualquer margem para dúvida, um documentário que deveria fazer parte obrigatória do ensino em Portugal pois só transmitindo a sua obra é que a sua memória irá perdurar. A todos aqueles que tiverem a oportunidade de ver este documentário (que passa tantas vezes na RTP Memória) não deixem de o ver.
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10 / 10
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