terça-feira, 22 de maio de 2012

Dark Shadows (2012)

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Sombras da Escuridão de Tim Burton é a mais recente colaboração do realizador com Johnny Depp que aqui volta a encabeçar um elenco de luxo onde se destacam ainda Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham-Carter, Johnny Lee Miller, Chloë Grace Moretz e Christopher Lee numa participação especial.
Esta adaptação cinematográfica de uma série televisiva que criou uma verdadeira legião de fãs (independentemente da sua qualidade enquanto programa), conta-nos a história da família Collins que em 1752 parte de Liverpool rumo às Américas e por lá funda Collinswood, uma pequena vila piscatória onde se tornam donos e senhores.
Quando Barnabas (Depp) se torna num jovem adulto, capta as atenções de uma jovem criada chamada Angelique (Green), que de angélica pouco tem, não sendo correspondida e dando assim vida a uma verdadeira vingança que não terá limite nem na crueldade nem no tempo, transformando-o para sempre num vampiro para a sua maldição eterna.
É esta inexistência de limites que irá então determinar um salto temporal para 1972 onde Barnabas está, acima de tudo, desenquadrado nos hábitos e costumes de uma América que não deixou mas que é, para ele, uma terra estranha.
O factor que logo à partida leva qualquer um de nós a ir ao cinema ver este filme começa pelo nome daquele que lhe dá vida... Tim Burton. O realizador que já deu uma quantidade infindável de personagens memoráveis, boa parte delas graças à sua colaboração com o próprio Johnny Depp, criou também ele uma legião de fãs graças a este tipo de histórias que se localizam sempre em locais muito específicos e com uma dinâmica e ambiente muito particulares.
De uma forma simpática qualquer um de nós pode dizer que o "universo" Burton é realmente muito "particular", conseguindo criar não só o ambiente específico onde todas as histórias se desenrolam como também as personagens que lhe dão vida são tudo menos "normais". Se ao dizer isto de um qualquer filme poderia ser considerado quase um insulto aqui, pelo contrário, reside o maior elogio que posso dar a esta ou a qualquer outra obra de Tim Burton. São estes dois mesmos factores, meio e personagens, que definem a originalidade e irreverência deste realizador que dá vida àqueles que facilmente poderiam ser considerados os rejeitados da sociedade. Personagens que dão corpo e alma a um conjunto de seres com personalidades firmes mas diferentes do socialmente aceite como "normal". Que vivem no limbo entre a sociedade e o seu mundo particular, mas que conseguem em qualquer um deles afirmar-se pela sua verve.
Remetendo-me apenas e só a este filme, podemos constatá-lo em Barnabas (Depp) que mesmo desenquadrado da época em séculos consegue inserir-se nela como se de lá nunca tivesse saído, em Angelique (Green) a bruxa que se adaptou ao passar dos anos mesmo que para isso tivesse de assumir várias identidades, em Elizabeth (Pfeiffer) a matriarca que tudo faz para defender o património da família, em Julia (Bonham-Carter) a psicóloga que tem mais problemas do que aqueles que é suposto estar a tratar ou nas crianças com os seus próprios segredos que os transformam em personagens principais e não em secundários quase decorativos, ou até mesmo o comum cidadão de uma vila que de comum pouco têm. Todos conseguem estar num filme e criar o seu próprio espaço sem atropelos e criar no espectador a vontade que cada uma delas tivesse o seu próprio filme para poderem ser explorados individualmente. É esta riqueza que as personagens de Burton, tenham ou não sido originalmente criadas por ele, conseguem criar... a vontade de ver mais, sempre muito mais. Sabemos que ali existe conteúdo suficientemente rico para nos fazer agarrar várias horas ao ecrã sempre a desejar mais.
E como todo o universo Burton é também criado graças ao próprio meio envolvente que consegue criar, este filme não é disso execpção. Tudo o que está à nossa volta é facilmente identificável como tendo o seu dedo por lá metido. As grandes mansões aparentemente vazias e desprovidas de vida, envoltas por um meio denso e quase impenetrável que nos leva rapidamente a pensar que algo tenebroso se esconde por detrás de árvores centenárias e assustadoras. A decoração deste filme a cargo de John Bush é excelentemente planeada e todo este look sombrio se pode agradecer ao jogo de luzes e de sombras que a maestria da fotografia de Bruno Delbonnel conseguem recriar. O mesmo se poderá também dizer do guarda-roupa da autoria de Colleen Atwood, uma eterna colaboradora de Burton já com três Oscars e um dos quais ganho em Alice in Wonderland (também de Burton), e que não me espantaria que visse este seu novo trabalho reconhecido no próximo ano pelo menos com uma nomeação.
E falando na obra de Burton é quase impossível não referir a duradoura e muito proveitosa colaboração com Johnny Depp que já rendeu muitas, se não mesmo todas, personagens que ficarão para sempre na História do cinema. Esta, talvez não tão mediática como a que interpretou em Eduardo Mãos de Tesoura (arrisco dizer a menina dos seus olhos... de ambos), mas ainda assim suficientemente divertida para percebermos que ainda haverá muitas mais que esta dupla poderá vir a entregar no futuro. Depp está, corro o risco com o cliché, igual a si mesmo. Diferente, exuberante, divertido, louco e arrojado são as palavras que podem facilmente definir este seu Barnabas Collins. Um homem educado num ambiente rico e também ele exuberante, traído por uma mulher com quem partilhou alguns momentos mais íntimos e que de repente se encontra preso durante séculos, retirado do seu espaço, do seu conforto e que anos depois se encontra numa época tão ou mais exuberante do que ele e sem saber o que dali retirar. Sem dúvida, aqui tal como no passado, Depp é a alma do "negócio".
Esta não será certamente a melhor obra de Tim Burton mas vamos gostar dela pelo que vemos... pelo regresso a mais uma colaboração da dupla já referida, e por ser uma das mais recentes aparições no cinema que Michelle Pfeiffer faz (e de quem todos nós também ainda não nos esquecemos) no entanto, tal como todas as outras, é icónica, marcante e divertida e durante muito tempo ainda nos iremos lembrar dela.
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7 / 10
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