quinta-feira, 12 de abril de 2012

Land of Plenty (2004)

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Terra da Abundância de Wim Wenders que esteve presente na selecção oficial do Festival Internacional de Cinema de Veneza conta com as interpretações principais de Michelle Williams e de John Diehl.
Quando Lana (Williams) regressa aos Estados Unidos depois de uma longa ausência em Israel tem como principal objectivo encontrar o seu tio Paul (Diehl), que é basicamente a única família que tem. Paul é um homem frio e distante que não pretende criar laços com ninguém, menos ainda com uma sobrinha que mal conhece. Paul faz da sua existência uma vigilância a tudo e todo os que o rodeiam de forma a proteger as ruas americanas no pós-11 de Setembro de forma a evitar um novo ataque que ponha em causa a integridade do seu país. Tudo é estranho e todos são potenciais inimigos.
O olhar que Wim Wenders tenta incansavelmente ter para com os Estados Unidos e o "american way of life" através deste argumento que também assina em colaboração com Scott Derrickson e Michael Meredith centra-se, na sua totalidade, na vontade de mostrar um país pouco conhecido tanto para outras sociedades como, principalmente, para a americana.
Através deste filme temos um olhar bastante corrosivo para com uma sociedade que se concentra, e talvez sempre tenha concentrado, a sua atenção nos outros e não em si própria. Enquanto se questiona a validade de um governo no outro lado do mundo, não existe a preocupação de questionar as condições daqueles que habitam as ruas das grandes cidades, como no caso concreto Los Angeles, sujeitos à fome, à miséria, à degradação e à violência que aumentou exponencialmente após os ataques terroristas que vitimaram a cidade de Nova York.
A constante perseguição por um novo "terrorista" feita por "Paul" é disso reflexo. Pouco se preocupa em saber como vivem muitos dos seus compatriotas, no entanto passa todos os seus dias a procurar um novo terrorista em qualquer pessoa que tenha uma cor de pele diferente da sua. Porque foram eles (os "outros"), sejam eles quem forem, que prejudicaram o seu país, independentemente de todas as políticas que no próprio país sejam tomadas e que prejudicam cidadãos tão "americanos" como ele. Diehl consegue com esta sua intepretação conter muita da frustração sentida e debatida incansavelmente desde então, sobre o sentimento americano. Vítima de um distúrbio desde os tempos em que serviu o país no Vietname e que agora sente a necessidade de novamente "defender" o país. A questão é, no entanto, perceber contra quem. Quais as provas que incriminam, ou não, o "outro"? A sua religião? A sua cor de pele? A sua proveniência? Os seus hábitos e costume? Serão eles comportamentos ditos "terroristas" ou simplesmente os hábitos culturais que definem cada um de "nós"?
Ao contrário de Diehl que consegue suportar muito do filme com a sua intensa interpretação, já Michelle Williams aparece aqui mais apagada do que nunca. A sua "Lana" acabada de chegar de Israel após uma ausência de anos, torna-a quase uma estrangeira no seu próprio país. Lana tem um olhar diferente para com o que a rodeia, especialmente para com as pessoas com quem priva. Lana funciona quase como a representação de uma consciência americana que se encontra adormecida. Adormecida e praticamente apagada pois quase que se limita a estar (omni)presente. Habituados que estamos a interpretações de Williams que podendo ser contidas são, no entanto, fortes e que emanam uma presença absolutamente determinante, aqui não fosse a sua presença referida ao longo do filme e pouco sentiamos que por ali estava.
Por sua vez, bem presente é a extraordinária banda-sonora que quase poderia assumir o papel de uma das personagens do filme. Emocionante e, ela sim, justificadamente contida, quase sempre funciona como determinante para as emoções e pensamentos que nós espectadores temos enquanto assistimos ao filme. De longe um dos factores mais importantes e bem conseguidos de todo o filme.
Terra da Abundância é, de facto, um filme interessante. Deixa-nos pensar sobre o mundo e sobre aquilo que dele temos recebido neste novo século e milénio. Faz-nos pensar sobre o que desconhecemos e sobre aquilo que nos sequer nos foi apresentado como hipótese... Faz-nos pensar sobre esta terra da abundância e de oportunidades que os próprios Estados Unidos "vendem" ao mundo mas que, na realidade, não permite que todas as tenham.
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6 / 10
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