terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Heartlands (2002)

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Faz-te à Vida de Damien O'Donnell é um pequeno mas muito simpático filme britânico que passa ao lado de muito cinéfilos mas que, para aqueles que o descobrem, consegue ser uma agradável e admirável história sobre a descoberta do "eu" adormecido que existe dentro de cada um de nós.
Este filme apresenta-nos Colin (Michael Sheen), um homem simples, casado e que tem o seu próprio negócio de venda de jornais e que centra toda a sua diversão nos momentos em que se reune com os amigos para competições de dardos. Colin é, na sua igualmente simples opinião, um homem feliz.
Feliz até ao dia em que descobre que a sua mulher o trai com o capitão da equipa de dardos e que o vai abandonar para visitar a meca do jogo com o seu amante. A partir deste momento, toda a vida de Colin, tanto pessoal como profissional e no que a amizades diz respeito cai mostrando-lhe a fragilidade de tudo aquilo que pensava ter até então.
Esta simpática comédia dramática, e trágica em diversas ocasiões, que faz com que aquele homem pense não só na sua vida como na sua própria posição no mundo é de uma forma simplista e quase "inocente" reflectir sobre a condição humana. A anulação de um indíviduo em favor da felicidade (suposta) de outro e o abdicar de ideais, sonhos e vontades próprias assume aqui contornos tão humanos que não deixam em diversas ocasiões de nos emocionar.
Muito se deve a um brilhante Michael Sheen o bom funcionamento deste filme que assume aqui um desempenho que quase parece ser o dele próprio. A sua vulnerabilidade, o franco e tímido sentido de humor mas a sua sempre existente disponibilidade para conhecer e conviver com todos é esmagadora. Sorrimos com os seus pequenos enganos e com os momentos em que se atrapalha com os outros, fruto do seu pouco "saber estar" como resultado da sua auto-anulação face à sua impulsiva e dominadora mulher. Apesar de ser um filme que não teve (ou terá) muitos seguidores, o que é certo é que é das interpretações de Michael Sheen que o marcam como o genial actor que é. Os momentos em que forma espontâneamente os seus novos amigos (numa rara e igualmente "terna" interpretação de Mark Strong), são de tal forma magníficos que quase pensamos em como bom seria estarmos num local onde todos percebem aquilo que dizemos, mesmo quando as palavras escolhidas estão longe de serem as melhores.
Sem que nos apercebamos disso, temos um Michael Sheen dividido. O inicial, que se mostra um homem reservado sem iniciativa própria e que se deixa controlar pelo que lhe dizem para, naturalmente, conhecermos um homem que quer descobrir o mundo e tudo aquilo que o rodeia. O fascínio que ele consegue transmitir-nos em tudo o que faz é de facto genial.
É um filme dito "menor" no circuito cinematográfico britânico, e por cá julgo que passou directamente para o mercado DVD... daqueles baratinhos a que quase ninguém presta qualquer atenção. No entanto, para aqueles poucos que conseguiram adquiri-lo e vê-lo, estou certo que poucos (se é que alguns) consideram este como um filme menor no que à sua qualidade diz respeito.
Há um misto de sensações neste filme... Se inicialmente somos transportados para uma localidade do interior, algo desertificada e onde os divertimenos sociais passam apenas e só pelos casuais encontros nos bares locais para, momentos depois, uma viagem pelo país que atravessa locais onde tudo se torna um admirável mundo novo. Novas pessoas, novos locais, novos comportamentos, novas paisagens e novas experiências. Todas elas enriquecedoras e que nos mostram como o mundo pode ser bem grande e receptivo bastando para isso que estejamos disponíveis para o conhecer.
E toda esta receptividade alcançada através da sua simples forma de comunicar com os espectadores e que faz com que simpatizemos muito facilmente com este filme.
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7 / 10
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