sexta-feira, 15 de julho de 2011

Charlotte Gray (2001)


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Charlotte Gray de Gillian Armstrong tem como principal actriz Cate Blanchett. Só este "simples" aspecto é o suficiente para poder garantir que o enredo bem como o desempenho sejam de referência e de elevada qualidade.
A história deste filme, inspirada em acontecimentos verídicos, decorre durante a Segunda Guerra Mundial. Após o amor da sua vida desaparecer numa França ocupada pelos alemães, Charlotte Gray (Blanchett) decide para como espia para o país afim de contribuir para o esforço de guerra e aí poder ter notícias do homem que ama.
É aí que além das missões que cumpre toma contacto com o sórdido mundo da intriga, da denúncia e da desumanidade que naquela época facilmente se apoderou das mentes humanas.
Uma das mensagens principais deste filme é mesmo a citação final que escolhi... "Tudo pode ser verdade, até mesmo uma mentira". Aquilo que as distingue (às mentiras) é apenas quem as diz. É o portador das mesmas que as diferencia entre si mostrando aquelas que são contadas com o único fim de prejudicar ou nos seus antípodas de poder salvar a vida a alguém. Será toda a mentira má?
Blanchett, num dos seus inúmeros e grandiosos desempenhos, responde a esta questão muito facilmente.. Não, nem todas as mentiras são más. Poderíamos até esquecer todo o seu desempenho ao longo deste filme e concentrarmo-nos apenas no segmento final quando em escassas e breves linhas se faz passar pela mãe de duas crianças judias e lhes escreve uma carta. Poderiam ou teriam aquelas breves palavras ter salvo a vida daquelas crianças pelo simples facto de lhes ter transmitido algum conforto e esperança?
A distinção que se faz de mentira, tão prolífera nesta época onde para se (sobre)viver teriam de ser contadas tantas e tantas, reside nesse simples facto. Mentir para (sobre)viver. Mentir para resistir. Mentir para poder existir.
Michael Gambon é outro dos grandes actores deste filme ao interpretar "Levade", pai de Julien (Billy Crudup) o contacto de Charlotte. Gambon ao desempenhar o cínico e descrente francês tem um dos comentários mais felizes do filme quando diz a Charlotte que ninguém luta por um país mas sim por um ideal... pela esperança, pela família... pelo amor.
E finalmente temos Billy Crudup que interpreta um idealista comunista que luta na Resistência enquanto mantém a imagem de professor (de quem alguns desconfiam) durante o dia.
Escapando ao quase cliché, temos aqui os três maiores intervenientes desta época de guerra... a espia, o membo da resistência e o civil que não se enquadra em nenhum dos "campos de batalha". Três imagens, três perspectivas e três ideias sobre aquele conflito (que poderia adaptar-se essencialmente a qualquer um) num filme que sendo passado durante a guerra não é sobre ela mas sim sobre aquilo que é o mais importante do mundo... a esperança. A esperança numa mudança, na sobrevivência, no reencontro, na família, no amor... É com ela que vivemos e é por ela que podemos morrer.
Blanchett "once again" tem um desempenho brilhante, e tão esquecido, confirmando (se é que ainda era necessário) uma vez mais o seu intenso potencial dramático neste filme do qual não só gostamos mas que revemos com a mesma intensidade da primeira vez e com o qual facilmente nos emocionamos pela relação que se estabelece entre as várias personagens.
Refiro ainda, a título de curiosidade que Charlotte Gray foi inspirado numa história verídica da qual a sua interveniente faleceu este ano após ter recebido as maiores condecorações a nível mundial pelo seu enorme esforço durante aquele tão turbulento conflito.
Um drama de guerra feito com paixão e que para lá de explosões e de batalhas de armas concentra todo o seu potencial numa batalha feita em nome da esperança e da verdadeira identidade de cada um. Como tantos e tantos outros filmes aos quais Cate Blanchett dá corpo e alma, também este é imperdível.
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"Charlotte Gray: Anything could be true. Even a lie."
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9 / 10
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