domingo, 10 de abril de 2011

L.I.E. (2001)

.
L.I.E. Sem Saída de Michael Cuesta com Brian Cox e Paul Dano nos principais desempenhos, é um filme que nos transporta para uma cidade norte-americana onde ainda persistem alguns tabus que muitos ou desconhecem os preferem nem sequer pensar neles.
Numa sociedade de classe média-alta Howie (Dano) cresce sem qualquer tipo de supervisão, uma vez que a sua mãe já faleceu e o seu pai preocupa-se exclusivamente com a sua nova namorada com quem tem uma vida de boémia.
Howie e o seu grupo de amigos ignoram a escola e dedicam-se a uma vida de assaltos às abastadas casas da vizinhança até ao dia em que entram na casa de Big John (Cox) um respeitado membro da comunidade que tem, também ele, muitos segredos a esconder.
A relação entre Howie e Big John, que inicialmente se trava à custa da desconfiança, ganha muito rapidamente contornos que ultrapassam aqueles que seriam à partida, moralmente aceites, considerando o contexto pessoal e moral que cada uma das suas personagens carrega. No entanto, nem tudo aquilo que à partida parece óbvio acaba por o ser necessariamente.
Brian Cox, que tem um especial vocação para estas interpretações cujas personagens são difiíceis de digerir ou de criar simpatia, aqui não foge à regra. O preocupante para nós, enquanto espectadores, é que quase ganhamos simpatia por ver aquele homem de comportamentos duvidosos e que tem ali uma especial atenção para com o bem-estar daquele jovem adolescente que se encontra à deriva.
Paul Dano, em pé de igualdade com Cox, é convincente e bastante credível a interpretar aquele jovem desamparado e esquecido pelo pai, que encontra na figura de Big John, um pedófilo e predador, o conforto e o amparo que no seu próprio lar não tem.
É aqui que reside a nossa dualidade entre empatia e repúdio pela personagem de Brian Cox. Por um lado sabemos o que ele faz... Qual o seu estilo de vida.... Repudiamos e achamos totalmente impróprio. Por outro percebemos que por aquele jovem ele nutre simpatia e algum afecto que, é perceptível, não ser sexual nem íntimo, mas sim como se de um filho se tratasse.
O filme, que não sendo uma obra máxima, não deixa de tocar em questões demasiado sensíveis que afectam e muito a nossa sociedade actual pelos temas que aborda e por isso conseguir sair triunfante, tem ainda uma banda-sonora feita à medida que dá um ambiente ainda mais reprimido mas ao mesmo tempo esclarecedor sobre o que se passa por detrás das quatro paredes de uma casa.
L.I.E. (Long Island Expressway) que poderia também ser "lie", uma mentira. Uma mentira contada para manter uma aparente imagem incólume enquanto cidadão. As mentiras de Big John para a sociedade em nome da manutenção da sua imagem... As de Howie que nega os seus verdadeiros sentimentos e o que se passa em sua casa, e as do seu pai com problemas com a lei que pretende esquecer como se não lhe dissessem respeito.
Interessante este filme, que saiu vencedor da Semana dos Realizadores do Fantasporto em 2003, com os prémios de Actor para Paul Dano e Realizador e Filme para Michael Cuesta. Com boas e seguras interpretações por parte do duo protagonista e que consegue levantar bastante um véu que esconde muitas vidas reais daqueles pequenos meios que parecem, à primeira vista, idílicos.
.
.
"Howie: On the Long Island Expressway there are lanes going east, lanes going west, and lanes going straight to hell."
.
6 / 10
.

Sem comentários:

Enviar um comentário