terça-feira, 27 de julho de 2010

A Filha (2003)


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A Filha de Solveig Nordlund é para mim um dos grandes filmes desta década, e provavelmente de sempre, que o cinema português viu nascer. Filme que conta com a participação de Nuno Melo e de Joana Bárcia (nomeada ao Globo de Ouro de Melhor Actriz SIC/Caras) como protagonistas e ainda com Margarida Marinho, Cecília Guimarães, Cláudio da Silva e Ana Zanatti como secundários, temos aqui uma história que toca em inúmeros temas que passam pelo medo, a loucura, a ambição, o incesto e a morte.
Ricardo (Nuno Melo) é um bem sucedido produtor de programas televisivos que no dia em que lhe é atribuído um prémio pelo seu mais recente programa de televisão recebe uma mensagem em tom de ultimatum da sua filha. Ou regressa a casa ou nunca mais a vê.
Depois de uns quantos problemas (que envolvem sempre casos sexuais com uma e outra mulher) que o impedem de regressar no mesmo dia, quando finalmente chega depara com uma casa vazia. É aqui que começa a busca pela filha que nunca irá encontrar. Busca esta que faz com a "ajuda" de uma suposta amiga da filha, Sara (Joana Bárcia) que mais não quer do que um lugar como apresentadora de um dos seus programas de televisão.
Não vou  negar que o que me levou a ver este filme foi a presença de dois actores que bastante aprecio. Margarida Marinho, da qual faço por não perder um único trabalho e, claro, o grande Nuno Melo que à custa da sua sitcom Camilo & Filho me conquistou de imediato.
O facto destes dois actores fazerem parte do filme aliado ao facto de o trailer ser muito interessante e ter passado vezes sem conta na televisão ao ponto da frase "Vou já papá" ter-me ficado gravada na memória até aos dias de hoje, foram motivos mais que suficientes para despertar o interesse.
Assim que pude vi o filme e, não foi desiusão nenhuma. Confirmava-se que estava perante um brilhante e dos melhores filmes portugueses dos últimos largos anos.
Joana Bárcia interpreta de uma forma maliciosamente "inocente" aquilo a que a ambição pode levar um individuo. O desejo, puro desejo, de chegar até onde se quer sem olhar a limites. E aqueles poucos que existem podem ser facilmente ultrapassados.
Nuno Melo por sua vez é a encarnação de um homem à beira da loucura, e que rapidamente nela entra, que está disposto a tudo para manter o controlo sobre aqueles que mais facilmente domina, neste caso a sua filha. Bem com encarna o incesto. As suspeitas de que já abusara da sua jovem filha tinham sido encobertas para que não prejudicasse a sua fama em ascenção, no entanto, quando permite que Sara, que julga ser Leonor, o beije e com quem mais tarde se deita (calculamos com que propósito) fazem renascer a ideia de que afinal o que se dizia era de facto verdade.
A morte chegará para ambos como mero culminar das vidas que se permitiram ter. Das vidas que um dia sonharam ter. Uma vida em que a ambição e os seus objectivos desviantes os dominou e que, como tal, teriam de, por eles, ser também eliminados.
Temos um excelente filme, do qual me orgulho dizer ser português, dirigido por uma sueca que também assina o argumento em parceria com Tommy Karlmark e Vicente Alves do Ó, que nos enche de suspense e de tensão... Aqueles momentos finais fechados em casa de Ricardo são no mínimo tensos... Muito tensos e claustrofóbicos. Percebemos finalmente o porquê da sua própria filha ter querido sair e fugir. Percebemos o seu sofrimento quando, tal como agora com Sara, era presa dentro do armário, ao ver as marcas das suas unhas nas portas.
Factores estes que são possivelmente os piores considerando que por detrás de vidas supostamente perfeitas que tudo têm e tudo podem, encontramos potenciais predadores que em nome de vontades desviantes atormentam sem fim aqueles com quem convivem regularmente.
Quanto ao filme em si fico francamente satisfeito em perceber que o cinema português começou de há uns anos a esta parte a produzir uns quantos filmes que marcam pela qualidade tanto de interpretações como de realização e argumento, facto pelo qual há que aplaudir os profissionais que fazem do nosso cinema motivo de orgulho.
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"Sara: Vou já... papá.."
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8 / 10
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