quinta-feira, 1 de julho de 2010

About Schmidt (2002)

As Confissões de Schmidt de Alexander Payne entrega uma das interpretações mais fortes e sentidas que alguma vez vi Jack Nicholson ter.


O interesse por este filme começa, claro está, com o enorme chamariz que é, para mim, a presença deste que é um dos maiores actores do mundo. Entre tantos e tantos trabalhos com que Nicholson já nos consquistou, quer pela sua loucura e irreverência quer pelo seu lado selvagem ou mais cómico, é com este seu trabalho que ele demonstra pela primeira vez, ou pelo menos com tanta intensidade, a sua grande dimensão humana e profundamente dramática. Justo nomeado, mas não vencedor de Oscar na categoria de Melhor Actor (The Adrien Brody year), Nicholson entrega-nos um brilhantemente desempenhado papel dramático e intimista sobre as reflexões de alguém que perdeu a sua companheira e que descobre não a conhecer tão bem como pensava, e acima disso, descobre não se conhecer a si próprio como pensava conhecer.

Através de quase duas horas de um intensamente dramático filme temos o relato dos pensamentos de um homem que acaba de perder tudo. O trabalho, a mulher, a sua filha e especialmente a sua própria identidade.
A interpretação de Jack Nicholson não só é brilhante, como já vem sendo um hábito, como emocionante e comovente ao ponto de refletirmos inevitavelmente sobre o próprio sentido da vida. A dele e da nossa. Qual o legado que estamos realmente a deixar para o futuro? Qual a mensagem ou a obra que temos construída no passado que define a nossa pequena ou grande presença no planeta. O que é que fará os outros lembrarem-se de nós após a nossa morte?
Será que esse algo existe ou passámos simplesmente por aqui sem nada deixar, construir e ninguém que sofreu uma influência nossa?
A resposta a isto, e como deve ser esperada por muitos é que sim... Existe de facto sempre alguém que é positivamente influenciado pela nossa passagem pelo planeta. No entanto, a resposta que esperamos se calhar não é aquele que, no final, acabamos por ter. E essa, quando chega, é a mais forte, arrebatadora, sincera e comovente que o argumento do filme nos poderia entregar. Simplesmente enternecedor. Quando tudo parece ter chegado a um fim existe de facto uma pequena luz que nos mostra a sua presença.
Nicholson está igualmente rodeado de um conjunto de secundários de peso que complementam a sua participação neste filme como é o caso de Kathy Bates (também ela nomeada a Oscar pelo seu desempenho como Actriz Secundária), Hope Davis e Dermot Mulroney que completam o elenco de actores em desempenhos disfuncionais que tornam Warren Schmidt (Nicholson) no mais são de todos eles, o que conhecendo o historial do actor é por si só difícil de imaginar.
Temos então um retrato de memória de uma personagem que através da América mais profunda revisita o seu passado, a sua História e o seu ser, sempre com uma mensagem reflexiva de quão depressa passou o tempo, ao som de uma emotiva e simples banda-sonora da autoria de Rolfe Kent e com um majestoso argumento da autoria de Alexander Payne (que também realiza) e de Jim Taylor mas que só a força maior que é Jack Nicholson conseguiria dar vida e alma.
Brilhante e arrisco mesmo dizer que é um dos melhores filmes dos últimos dez anos (ou mais...) e que ninguém o deve perder.





"Warren Schmidt: Relatively soon, I will die. Maybe in 20 years, maybe tomorrow, it doesn't matter. Once I am dead and everyone who knew me dies too, it will be as though I never existed. What difference has my life made to anyone? None that I can think of. None at all."


10 / 10

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